domingo, 7 de agosto de 2016

Conheça o livro pelos olhos de uma leitora. Veja a Análise Crítica!


Sabe aquele preconceito com a literatura brasileira de que todos os livros são chatos? Pois é, foi justamente o que eu senti quando tive que ler “Terra Papagalli”, obra de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, publicado em 1997 no campo fictício. Pois bem, sabe esse preconceito? Ele foi quebrado. O livro me surpreendeu. Para quem esperava uma narrativa chata – vulgo eu – o mesmo quebrou todos os paradigmas e superou as minhas expectativas. O livro trata sobre o “descobrimento” do Brasil através de 134 páginas, com uma leitura leve e fluente.
O começo é bem light, se assim posso dizer, o personagem principal, Cosme Fernandes, apresenta-se através da narrativa sobre seus pais.

Pág. 9
“Ah, um rapaz de família humilde!”, você pensa. Ele foi a um primeiro momento, entretanto, seu pai começa a se envolver com comercio fazendo um sucesso danado que chega, até mesmo, a mudar de cidade. Cosme nasce antes de seus pais desembarcarem na nova cidade. “Hm, menino nasceu no mar. Filho de Poseidon”, mas calma aí! Aqueles (as) que são fanáticos por mitologia grega e já tendem a querer ler as entrelinhas de tudo. Esse livro não se trata sobre estórias mitológicas e sim, sobre a “descoberta” do Brasil.
Sua família é de Judeus, fazendo-os sofrer preconceito, a moral da época era ser cristã. Sua família fora denunciada e então utiliza de Cosme para provar a sua lealdade ao cristianismo, colocando-o num seminário.
Observe a confusão que começa por aí. Cosme nunca foi fã de aprender Latim, entretanto o estudava, seu professor se chamava Magister (em Português significa Mestre) Videira, como gostava de ser chamado. Convencido, não?
Magister também era um confessor e ao levar Cosme para a casa de uma nobre família para uma confissão, o mesmo compreende o porquê de seu professor ir visitar uma família a milhas de distância: A comida.

Fonte: Giphy
Pois sinto lhes dizer, mas vocês não são os únicos loucos por ela.


Pág. 11
 Em certo momento Cosme fica a sós com a filha do Senhor Fidalgo, chamada Lianor. Prepare-se para a parte cômica. A menina sofreu uma desilusão amorosa – quem nunca? Snif – e se abre de repente para Cosme. Ele fica até mesmo constrangido por sua falta de reação. Também, né! Uma estranha do nada vem derramar suas angústias em cima de você, não é para menos. Lianor diz que Cosme é muito parecido com seu sumido amado e se insinua para ele.
Sinceramente, a achei bem estranha. A menina devia estar muito sozinha pra se jogar assim no primeiro macho que aparece (😂😂) . Os dois fazem tico-tico no fubá, se é que você me entende ( ͡° ͜ʖ ͡°), e juram lamúrias de amor. Pergunto-me de onde esse amor surgiu tão assim do nada. Num momentos são meros desconhecidos, no outro Lianor insinua-se, Cosme não resiste e BUM! Um amor explode. 


Fonte: Giphy
Se hoje em dia fosse assim, estaríamos cheios de homens e mulheres apaixonados. Entretanto não vamos nos esquecer da moral e costumes da época, as pessoas não eram tão abertas iguais às hoje em dia.
Cosme vai embora e sofre de saudades da sua, tão recente, amada. Em um belo dia, o mesmo é chamado para a sala de Magister Videira. E aí você pensa: “Eles descobriram!”. Calminha aí meu (inha) amigo (a), leia e veja que foi bem pior que isso.
Cosme entra em desespero pensando o mesmo que você pensou: Ele foi descoberto. Começa a pensar que Lianor neste momento deve estar sofrendo, sendo açoitada, entre outros castigos. 

Pág. 14
Cosme começa a dizer que a culpa é dele, pede desculpas, diz que se deixou ser levado pelo Diabo, assumindo a culpa toda para si.
Um momento de silêncio.
Porém, Cosme fora chamado na sala para justificar o porquê de somente haver onze biscoitos na cesta, da volta da casa do Senhor Fildalgo, ao invés de doze.

Fonte: Giphy
Poooois é, o riso é livre e nessa parte eu não tive como conter-me. Cosme mostra que é gente como a gente, Brasil! Precipitando-se, o próprio se entregou! Ele foi lerdo o suficiente para isso. Vemos que as pessoas que não estão acostumadas a mentir, na primeira batalha se entregam. Já dizia minha mãe “Veja mais e fale de menos”. Tadinho de Cosme, será que os pais dele não disseram isso? Se tivessem, talvez, ele não se entregaria tão facilmente. E essa confusão o levou para o desastre total. Foi preso, quase morto e condenado aos piores dos tratamentos.
O desenrolar do livro ocorre de formar natural. Admito que houve momentos em que a leitura se torna cansativa e marasmática, porém o livro é uma caixinha de surpresas. Em determinado momento Cosme parece um menino ingênuo para certas situações, toda via, com os acontecimentos em sua vida ele começa a adquirir malicia, entretanto essa característica não o livra de certas surpresas na vida.
Quando é designado para ir as Índias como prisioneiro e sua tripulação acabam por "achar" o Brasil, Cosme faz amizade com um grupo de prisioneiros, o mais marcantes de todos fora Lopo de Pina, homem proprietário de uma personalidade humorística a qual coloca apelidos em todos. Foi preso acusado de ter matado o próprio irmão sem querer ~Como assim?~ Pois é, cismei com ele, achei muito estranha a história de como o mesmo matou seu próprio irmão. História digna de ser um dos romances, não preenchendo exatamente a categoria, trágicos de Shakespeare. Lopo foi a pessoa que Cosme mais se aproximou.
Depois de meses no mar, vários dramas e um amor persistente por Lianor , Cosme e a tripulação do navio declaram “Terra  à Vista”. Terra essa que Cosme temeu até o ultimo fio de cabelo. Ôh homem frouxo! Depois de um contato com os nativos decidiram por deixar alguns homens nessas terras pertencentes a Portugal com a desculpa de que aqueles que ficavam eram invejados por todos. Porém Cosme não pensou desse jeito, ficou temeroso, pedia a Deus que não fosse escolhido, mas é como diz o ditado: Vamos fazer o quê, né mesmo? E lá foi ele e seus companheiros em direção à terra.

Pág. 32
Os índios, bastante inocentes, aceitaram em um segundo momento aqueles homens em sua vida de bom grado através da troca de presentes “bobos”. Cosme e seus companheiros cresceram naquela terra, adquiriram experiências as quais em alguns momentos se felicitavam por ali estarem e em outras lamuriavam. As mulheres muito inocentes, e deslumbradas pelos homens brancos, se ofereciam. E como falei anteriormente, o livro é um caixinha de surpresas. Por mais que em alguns momentos a leitura se torne cansativa, coisas interessantes estão por vir. Cosme supera seu amor por Lianor e chega a ter filhos com uma das índias, também alcançando um certo nível de poder na tribo. Entretanto, acredite, essa não é a maior surpresa do livro. Tãtãtãããã! ~Efeito dramático~
Os autores do livro apresentaram uma narrativa bem descritiva, com poucos diálogos e muitas explicações sobre os fatos decorridos. Na obra retratada temos um narrador-personagem o qual organiza suas ideias em tempo psicológico, variando o seu espaço, tempo e, até mesmo, os personagens de acordo com o desenvolvimento da trama. Impressionei-me pelo fato de não ocorrerem mudanças de estruturação do texto, uma vez que a obra foi elaborada por duas pessoas. O livro fora escrito como uma forma de informar e criticar a tal “descoberta” do Brasil. O mesmo, ainda nos faz analisar as heranças corruptivas que adquirimos e levamos ao longo dos anos. A analogia à facilidade de enganar e ser enganado é sempre persistente e é abordada através dos “Dez Mandamentos Para se Bem Viver na Terra dos Papagaios”.
Além disso, temos o retratamento de uma Portugal em processo de transição. Num primeiro momento Cosme é julgado por seu ato, considerado um tabu para aqueles que o julga, retratando o Classicismo. O mesmo traz a razão acima dos sentimentos, onde o amor deve ser sublime, espiritual e não físico de acordo os ideias divinos, o tão falado Teocentrismo. Em outro momento Cosme é levado em direção as Índias, dessa forma temos uma mudança de rumo, entra em cena o Humanismo, no qual o homem procura o poder, ascendendo os ideais burgueses, tornando o homem o centro de tudo, o tão conhecido e praticado Humanismo.
Na atualidade não nos afastamos do ideal Humanista, tudo o que procuramos a todo momento é o poder. Talvez por pura luxúria ou por ser a única forma de sermos ouvidos. Afinal, alguém já viu, de fato, a classe mais baixa ter voz? Ela pode tentar, mas no fim a vitória é dos poderosos que manipulam a tudo e a todos, que camuflam o que vemos e consequentemente tudo se torna ilusão. Nessa terra não há nada que não possa ser comprado.
“E o resumo de meu entendimento é que naquela terra de fomes tantas e lei tão pouca, quem não come é comido.”
- Cosme Fernandes, Décimo Mandamento Para Bem Viver Na Terra Dos Papagaios.(Terra Papagalli, pág. 126)
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